quarta-feira, 10 de março de 2010

Raio-X dos Xbox Live Indie Games

São zilhões de jogos independentes, de massagem via vibração do controle à matança de zumbis. Este é o primeiro post do blog de uma série sobre Xbox Indie Games: uma verdadeira aventura pelo vasto e obscuro mundo da liberdade de programação

É universal a defesa da liberdade. Pretexto inclusive para guerras que não necessariamente tem o objetivo de garantir independência, ter liberdade é, basicamente, ter permissão para se fazer qualquer coisa. Segundo a melhor amiga para consultas virtuais, é condição do comportamento humano voluntário. No mundo do desenvolvimento de Games, a concepção e percepção de liberdade se assemelham muito às das demais indústrias do entretenimento e artes: é poder expressar aquilo que você deseja na sua obra sem interferências de forças externas, principalmente do direcionamento do mercado.  


Os jogos independentes gozam dessa liberdade. Uma pessoa, uma dupla ou até mesmo um pequeno estúdio desenvolvem um jogo simples, de ciclo curto, para vender por valores pequenos - de US$ 1,00 a US$ 15,00 - em serviços de distribuição digital como a Playstation Network, o Steam, a App Store ou a Xbox Live. E, nesse sentido, a Live oferece condições ainda melhores ao independente, já que o kit de desenvolvimento é gratuito (XNA + Visual C# Express) – para outras plataformas, custam milhares de dólares - e a licença para publicar na plataforma custa US$ 100,00 por ano. Acessibilidade, oh yeah!

Neste modelo adotado pela Live, qualquer moleque pode fazer seu game em XNA e mandar para a avaliação da comunidade, eventualmente chegando ao consumidor final sem maiores barreiras no canal Xbox Live Indie Games – eis a grande diferença para a PSN. E qual o resultado disso? Uma verdadeira avalanche de games - dos mais diversos tipos, das mais distintas qualidades.



Vamos lá: na noite de 09 para 10 de março, eram nada menos que 832 jogos lançados desde 19 de novembro de 2008, quando os então Community Games entraram no ar. Média estonteante de 1,75 jogo por dia. Como se pode imaginar, muito, mas muito lixo está aí no meio. Inclusive muita coisa que não deve sequer ser considerada jogo. Mas como separar o joio do trigo?

Bem, os jogos são avaliados pela própria comunidade e pelos jogadores, que dão de uma a cinco estrelas ao game. O sistema é falho, uma vez que não é preciso comprar o jogo completo para avaliar. De toda forma, serve como uma base para traçar a anatomia dos Xbox Live Indie Games:


Como se vê neste belíssimo gráfico produzido por mim, a imensa maioria está na faixa da ruindade/mediocridade – duas a três estrelas. Vale lembrar que não é possível avaliar com zero estrelas, então a nota mínima é um – o que coloca estas notas abaixo da média para passar de ano (tirar cinco na escola seria tirar três aqui). Uma fatia considerável mostra jogos competentes, acima da média, e apenas míseros 2% - um total de 13 games – ostentam nota acima de quatro estrelas.

Para efeito comparativo, os jogos convencionais, AAA, também são avaliados pelos jogadores. OK, é uma grande várzea: games que nem foram lançados já podem receber avaliações (Halo: Reach é o melhor avaliado). Isso dá margem a muito fanatismo e compromete essas notas bem mais do que as dos Indie Games, que despertam o interesse de um publico muito mais restrito e potencialmente crítico do que fazem os jogos blockbuster. De qualquer forma, aos dados:



É notável a brutal diferença no volume de jogos na melhor fatia da pizza. Mesmo tirando uma margem grande de erro, já que existe muito bairrismo e fanatismo envolvido, segundo o Metacritic, 294 jogos de 360 receberam notas acima de 7,5.

Isso significa que os Indie Games ainda precisam passar por um processo de amadurecimento até chegar a um patamar mais interessante. Os bons games são raras exceções. Embora alguns sejam incríveis surpresas, a grande maioria é absolutamente irrelevante, transitando do horroroso ao bizarro, passando pelo idiota e tudo o mais.

Só o tempo irá confirmar, mas tudo indica que há muito espaço para desenvolvedores sérios e criativos se destacarem no meio da avalanche de títulos. Colocar um jogo com conteúdo divertido e execução precisa pode, sim, fazer deste canal um trampolim para os holofotes do mercado. A meritocracia há de promover a seleção natural na Xbox Live Indie Games.